quarta-feira, 11 de janeiro de 2012

Erva-daninha

"Peço licença ao meu querido Mestre para postar um de seus belíssimos textos que sempre me emocionam, e que ele saiba que onde estiver sempre será lembrado pelo que foi, e pela obra que nos deixou. Postarei um de seus textos que refletem intensamente meu momento, e como não seria capaz de passar tal sentimento com tamanha perfeição, prefiro parafrasear as palavras de meu mestre."

Erva-daninha

Vou crescer à sua volta, feito coisa imprestável e indesejada.
Vou ficar aos seus pés feito coisa que não se queira
Porque sou eu e não você quem decide quando devo ir,
Porque é você e não eu quem me classifica ruim assim.

Se não devo ter esperanças; o problema será meu.
Se não devo esperar nada; quem sabe nunca esperarei
Receberei qualquer enxovalho como elogio.
Se não devia estar ali dizendo que te amo;
Estarei por tanto tempo até que isso me faça mal.

Devia colocar nessa sua linda cabeça,
Que o que sinto, independe de sua vontade.
Que o que sou, independe do seu querer.
Foi você quem mudou. Foi você que negou o que sentia até então.

Não eu. Não. Eu continuarei aqui feito estação sem trem.
Ansiosa pelo roncar dos seus motores,
Pelo calor que exala de sua fronte lívida,
Pela vivacidade que me mostrastes e me apresentastes.

Fico aqui sem passagens nem passageiros.
Fico aqui aguardando o tremor em minha plataforma.
Porque me mostrastes que sou frágil, por ter-me sentido inumano sem você.
Por me ter feito ver que a felicidade dos trilhos é o peso do seu corpo que passa.

Serei erva daninha em sua horta.
Serei capim sem valor em seu jardim.
Serei, sem querer, feito praga em suas plantas.
E mesmo quando não me quiser sentir ou ver,
Lá estarei. Indesejado. Para o meu prazer.

Alcy Paiva - 24/05/09